Emoção e alegria marcam a cerimônia em homenagem aos fundadores da Pomitafro

Sessão solene foi realizada na última quarta-feira (14) e, na ocasião, idealizadores da Pomitafro foram homenageados.

19 de agosto de 2019 às 00h00.

Por Cléber Sabino - ASCOM-VP

Os olhares dos que acompanharam a homenagem aos fundadores da Pomitafro, promovida pelos vereadores de Vila Pavão na tarde de quarta-feira (14), transbordavam emoção.

Com a Casa repleta de convidados, o presidente Marcos Laurenço Kloss, abriu os trabalhos dando boas vindas a todos os presentes. “É com alegria que presido essa solenidade para homenagear os fundadores da Pomitafro que este ano completa 30 anos de história”, disse.

A história

A primeira Pomitafro aconteceu no dia 27 de agosto de 1989 na escola CIER hoje CEIER. Com toda dificuldade da época, os professores Jorge Kuster Jacob, Lucinete Buge Zucateli e Cirléia Silva de Oliveira, deram o primeiro grito que mais tarde ecoaria por todo o país. É claro que também existiram outras pessoas que contribuíram e a própria comunidade que apoiou o evento, mas, esses três, foram o cérebro e o coração das primeiras edições da festa.

A Pomitafro hoje não é apenas uma festa, é um movimento que mesmo quando não existe festa, continua a ser pesquisado, exposto e resgatado, através das escolas, escritores, acadêmicos e pesquisadores, enfim, chegamos a 22ª Pomitafro, mas o movimento tem 30 anos de muita contribuição para a cultura local, capixaba e nacional.

O depoimento dos fundadores da Pomitafro, revelaram detalhes inéditos e importantes sobre a criação do evento, até então, desconhecidos pela maioria das pessoas.

Conforme o sociólogo Jorge Kuster Jacob, grande pesquisador da cultura pomerana no Espírito Santo, a Pomitafro nasceu da necessidade de se criar uma identidade própria para o povo do município de Vila Pavão. Recém-formado no Rio Grande do Sul e de regresso a Vila Pavão, Jorge recorda que a Pomitafro foi de certa forma inspirada no movimento nativista gaúcho, manifestação que procura valorizar a cultura de um lugar, em reação à imposição de uma cultura externa, em geral dominante.

Naquela época, o CIER realizava uma festa caipira que não tinha nada a ver com a herança cultural das pessoas do município e nós achávamos que tínhamos que fazer alguma coisa pela cultural local. Foi então que percebemos que a cultura dos três grupos predominantes, os pomeranos, italianos e afro-brasileiros estava adormecida e precisava ser despertada. Esses grupos distintos, cada qual em seu habitat, respirava e vivia sua cultura, com sua língua, culinária, música, modo de se vestir entre outros hábitos, mas não se integravam. Essa constatação foi levada para uma reunião onde foi discutida, e a partir daí começou-se a pesquisar a história desses grupos étnicos que colonizaram o município. Ao trazer essas informações para dentro da escola compreendemos que devíamos parar de aplaudir o que vinha de fora e sim procurar colocar para fora o que estava reprimido dentro dessas pessoas em forma de cultura para sermos aplaudidos”, revelou.

Para o sociólogo, a cultura, assim vista, faz parte do desenvolvimento local sustentável. Ela vai ocupando espaço, interferindo na história e na autoestima do povo, e assim foi se criando grupos de capoeira, de música e de folclore que tinham no palco da Pomitafro, espaço garantido para suas apresentações. “Hoje em dia a Pomitafro está enraizada na história de Vila Pavão e isso é irreversível, então senhores, temos que fazer de tudo para que esse evento floresça ainda mais”, pondera Jacob.

A professora Cirleia Silva de Oliveira, defensora da cultura africana, idealizadora da Pomitafro, juntamente com Jorge e Lucinete, atualmente reside no município vizinho de Nova Venécia. Visivelmente emocionada, intercalou em seu pronunciamento poemas com temática apropriada para expressar seu pensamento. “A sensação que tenho ao vir a Vila Pavão é a sensação de voltar para casa. São muitas as pessoas que gostaria de abraçar. Não poderia falar da Pomitafro, sem falar das inúmeras pessoas que contribuíram para a culminância desse momento: professores, técnicos, corpo administrativo, vigias, serventes, voluntários, amigos, e especialmente, os alunos que muito contribuíram para o seu desenvolvimento. Ao cumprimentar aqui a Ingrid Wutke, eu cumprimento todos os alunos. No meu olhar de quem acompanha esse movimento, muito do que a Pomitafro é hoje, deve-se a ela”, afirmou.

E continuou: “Fazer cultura não é fácil. Cultura nunca deu camisa para ninguém. Houve um período na história que cultura dava cadeia. Nós não chegamos a ir para cadeia, mas ouvimos muita conversa preconceituosa e levamos muitos desaforos para casa porque acreditamos que cultura é necessário. É a força de um povo. Diz o ditado que quem não tem dinheiro conta história. E Maria Zambrano (filósofa e escritora espanhola que nasceu no início do século 19) disse: feliz daquele que pode contar a si mesmo a sua história, e nós estamos aqui para contar a nossa história, sabendo que ela se funde com a de vocês e que esse, é um processo continuo”, disse.

Quebrando preconceitos

A cultura é uma forma de combater a intolerância e o racismo. Onde há cultura não há preconceito. Os observadores concordam que esses 30 anos de Pomitafro influenciaram o comportamento dos habitantes de Vila Pavão. Vila Pavão hoje é uma cidade que atrai as pessoas de fora porque oferece a eles cultura genuína. O nativo pavoense atualmente é conhecido pelo seu jeito peculiar, festeiro e amistoso e que tolera as diversidades.

Mas nos primórdios da Pomitafro, as coisas não eram bem assim. Com um relato forte e contundente, Cirleia revelou fatos da época do nascimento da Pomitafro, como a confecção do primeiro cartaz, as dificuldades do dia-a-dia, e também a resistência e preconceito que tiveram que superar.

De acordo com ela, a primeira Pomitafro, apesar de chamar a atenção, não causou muito impacto na comunidade. Ela diz que, ao contrário, foi na segunda edição do evento que presenciou um dos episódios de preconceito mais traumáticos de sua vida. “Nós trouxemos um grupo de dança afro, recém-criado em Nova Venécia para se apresentar. Nesse dia, grupos de danças pomeranas e italianas também se apresentaram, só que com roupas mais comportadas e as pessoas estavam acostumadas com aquilo. Quando a apresentação do grupo afro começou causou reações imprevisíveis num grupo de pessoas, não acostumadas com aquele ritmo frenético da música, da dança afro e das poucas roupas das meninas. Foram momentos impactantes e ali nós presenciamos uma demonstração de intolerância extrema. Alguns não conseguiram conter o sentimento de aversão e ao fim apresentação insultavam, rasgavam as roupas das dançarinas e até as agrediam. Ainda hoje, choro quando me lembro disso”, contou.

A solenidade

A Sessão Solene foi organizada pela equipe da Câmara Municipal, coordenada pelo servidor Paulo Ricardo Tressmann. Durante o evento o secretário municipal de Cultura e Turismo Gil Leandro Bregër Lauvers Paz, o prefeito municipal Irineu Wutke e os vereadores presentes também proferiram pronunciamento na tribuna da Casa, confira:

 

Secretário de Cultura e Turismo Gil Leandro Bregër Lauvers Paz

Gostaria de destacar a presença dos folcloristas, representantes de grupos folclóricos, associações culturais, militantes da cultura local e das rainhas e princesas que representam muito bem a força e beleza da mulher pavoense, através das etnias Pomerana, Italiana e Afro-brasileira. Aos baluartes da Pomitafro, professores Jorge Kuster Jacob, Lucinete Buge Zucatelli e Cirléia Silva de Oliveira, minha admiração e minhas saudações. Antes, não poderia deixar de agradecer aos vereadores pela iniciativa desta Sessão Solene, pelas honrarias e as homenagens. Fico extremamente feliz pelo nosso legislativo reconhecer o trabalho cultural que é realizado em Vila Pavão. Meu obrigado também ao amigo Paulo Ricardo Tressman que cuidadosamente organizou cada detalhe desta sessão. Como é do conhecimento de todos, esse ano realizaremos através de inúmeras comissões, igrejas e tantos outros voluntários a 22ª Pomitafro. Poucas cidades têm movimentos culturais como esse, e cabe a nós ensinar aos mais jovens a cuidar desse movimento com o mesmo carinho que nós hoje o fazemos. É nosso dever como folcloristas dizer que a Pomitafro não é festa política, ou muito menos comercial, ela é um movimento onde a cultura é soberana, e independente de quem estiver a frente do governo precisa apoiar a sua realização. Hoje é um dia de muita reflexão, talvez nos falte mais união, talvez falte mais apoio, ninguém aqui (pelo menos eu acredito) nasceu na Pomerânia (Alemanha), ninguém nasceu na Itália ou muito menos veio do continente africano. Somos todos brasileiros. E sabe o que temos em comum?  – Nós carregamos a força da nossa cultura através do amor que temos por uma única bandeira: a de Vila Pavão. Nossa cidade é o berço da Pomitafro, e por isso temos que nos unir mais, não buscar caminhos diferentes, acabar com rixas do passado e seguir apenas uma direção que é o da tolerância e do respeito. 30 anos não são 30 meses ou 30 dias. A Pomitafro já é um jovem adulto que ainda tem muito caminho pela frente, muitos desafios e muito potencial a ser explorado. Sabemos que muitos desafios são enfrentados para manter qualquer movimento ativo, mas como já mencionei, cabe a nós fazer isso com excelência. Espero que o futuro seja abençoado para nossa Pomitafro, que mais pessoas se apaixonem por esse movimento tão lindo, e que mais pessoas possam entender que gestão cultural traz benefícios a todos: educação, renda econômica, e responsabilidade coletiva. Sigamos em frente e que possam vir mais 30 anos de prosperidade cultural. Salve a nossa Pomitafro! Dankeshoin for yei alle! Grazie a tutti voi! Muito obrigado a todos!"

 

Prefeito Irineu Wutke

Bom ver a casa cheia e colorida, pois cor é vida e de certa forma a Pomitafro é isso, é cor, alegria e movimento. Eu parabenizo o presidente Marquinhos e demais vereadores por esse reconhecimento às três pessoas que deram início a esse movimento, mas que só foi adiante devido ao engajamento de toda a sociedade. Devido à Pomitafro, Vila Pavão hoje é conhecida pela sua diversidade cultural. São diferentes culturas que se entrelaçam. Quando se olha para fora do município, enxergamos outros movimentos, mas igual ao nosso não. Essa coisa de colocar todos num mesmo caldeirão é inédito e só existe aqui em Vila Pavão e as pessoas de fora também enxergam isso dessa forma. As pessoas de fora ficam admiradas e perguntam como uma cidade tão pequena produz um evento grandioso como este. Mesmo com todas as dificuldades, ao longo desses 30 anos, o movimento vem acontecendo, graças às escolas, igrejas e comércios. Talvez, os mais jovens não saibam, mas no início era tudo muito improvisado, mesmo porque, o nosso município não tinha infraestrutura adequada, mas o importante é tornar a cultura um ponto de encontro, onde diferentes pensamentos se convertam e para nós, um município pequeno, cultura e turismo devem caminhar juntos. Isso é importante economicamente, pois, o turismo movimenta diretamente o comércio e diferentes setores da economia. Então, temos que buscar unidade para avançar ainda mais e produzir um movimento cultural de melhor qualidade. A gente vai vivendo, convivendo, amadurecendo e superando as diferenças em nome de um objetivo comum. Uma coisa que para mim está muito clara: nesses 30 anos, a Pomitafro proporcionou a todos nós, um grande aprendizado de tolerância, convivência, gratidão e respeito às diferenças.”

 

Vereadora Vera Lucia Elias de Souza

“Sempre fui admiradora do trabalho desenvolvido por vocês em prol da cultura do nosso município. Temos visto nos noticiários agressões terríveis acontecendo à cultura do nosso país, e não podemos deixar isso acontecer com a cultura do nosso município. Como foi dito aqui, a Pomitafro é um movimento que impulsiona todo o município. Aproveito este momento para parabenizar os seus criadores e a todos os envolvidos na realização da 22ª edição da festa.”

 

Vereador Francisco de Assis Campos

“Boa noite a todos. Gostaria de agradecer a Deus por estar aqui e dizer que esta homenagem foi muito oportuna. Eu penso que as homenagens devem ser feitas enquanto as pessoas estiverem vivas como está sendo feita neste momento. É importante que essa rapaziada presente aqui hoje, que é o nosso futuro, conheça a história e o trabalho realizado pelos pioneiros. Quando era só uma cor (raça), era meio sem graça, mas essa miscigenação deu um colorido muito bonito ao nosso município. Trazer artistas de fora para levar todo o nosso dinheiro não é cultura. Cultura são os nossos artistas locais, os grupos de dança e nosso brote de banana. O movimento tem o meu total apoio. Podem contar comigo!”

 

Vereador Gecimar Rodrigues

Inicio as minhas palavras agradecendo a Deus a oportunidade de integrar essa Casa de Leis e estar aqui nessa noite homenageando e valorizando o trabalho dos fundadores da Pomitafro. Foi mencionado no início deste evento, o quanto vocês sofreram para chegar até aqui. Esperamos que essa pequena e singela homenagem sirva de estímulo e exemplo para estes jovens presentes aqui nesta noite e possam dar continuidade ao trabalho de resgatar e levar adiante a nossa cultura.”

 

Vereador João Trancoso

“Professores Jorge, dona Nélia, representando a Lucinete e Cirleia. Nesse momento de harmonia, gostaria de agradecer muito a vocês por terem promovido a união entre as raças nesse município. Sabemos que no passado pessoas com a minha cor eram discriminadas. Eu mesmo e meus familiares sofremos muito com essa discriminação. Devido a iniciativa de vocês, houve integração das raças e todos nesta cidade se tornaram mais tolerantes. Nos sentimos bem vivendo neste município. A missão de vocês tem a mão de Deus. Meus profundos agradecimentos a vocês”.

 

Vereador Juvenal Médici Ferreira

"Meus Parabéns aos fundadores dessa linda festa. Venho acompanhando, especialmente, o trabalho do sociólogo Jorge Kuster Jacob no decorrer destes anos em prol da cultura local. Quem é mais jovem não faz ideia das discussões e desentendimentos que essa pessoa se envolveu para defender esse legado cultural. Eu mesmo presenciei várias delas. Estamos orgulhosos de estar aqui homenageando esse movimento cultural, desejando que ele cresça e se desenvolva muito mais. Nossos agradecimentos aos funcionários desta Casa que organizaram essa importante cerimônia e a todas as pessoas aqui presentes."

 

Vereador Valdeci Buge

Vocês, fundadores da Pomitafro estão de parabéns. Devido à Pomitafro nosso município é conhecido em todo o estado. Nas minhas visitas a outros municípios, especialmente a Conceição da Barra, onde a tradição de folia de reis é muito forte, percebe-se que as pessoas admiram e Pomitafro e me perguntam sempre como nós conseguimos juntar pessoas de etnias diferentes: pomeranos, italianos e afro-brasileiros-brasileiros numa mesma festa."

 

Vereador Marcos Laurenço Kloss (Presidente da Câmara Municipal)

Além do aspecto da integração cultural, eu considero a Pomitafro importante também porque ela dá oportunidade as pessoas, seja, ajudando como voluntários, se apresentando nos desfiles, grupos de dança, ou em outras atividades, de mostrar sua capacidade e habilidade, e ainda de participar do contexto histórico do município. É importante darmos oportunidade aos artistas da terra. Eu me lembro que quando ainda era criança e cursava o ensino fundamental em Praça Rica tive a oportunidade de participar da encenação de um casamento pomerano. Isso ficou gravado na minha memória e jamais vou esquecer. Infelizmente em alguns anos a festa não foi realizada, mas isso não impediu que o movimento Pomitafro avançasse. Pedimos a Deus que continue abençoando para que esta festa possa crescer cada dia mais e assim aumentar a união entre esses três povos que ajudaram a construir esse município. Meu muito obrigado a todos aqui presentes."

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